Muitas vezes o transtorno depressivo em adolescentes é visto como uma fase de rebeldia e drama. Logo no início do filme As virgens suicidas (1999), produção da diretora Sofia Coppola adaptado do romance de Jeffrey Eugenides, a jovem Cecilia (Hanna R. Hall) – 13 anos – tenta suicídio. Ao chegar no hospital, o médico responsável desdenha da situação: “você não tem idade para saber o quanto a vida fica difícil”. Mas não é bem assim: se algumas pessoas veem a adolescência como a melhor fase da vida, outras enxergam como a época de falta de compreensão e baixa autoestima. As questões familiares e escolares, como abusos e bullying, são os principais fatores que, aliados com os hormônios à flor da pele e componentes cerebrais que promovem a impulsividade, podem fazer sérios estragos.
Dr. Hercílio explica que o adolescente está em uma fase de traçar limites entre o que compartilhar ou não com os adultos e faz de tudo para estar no controle de sua própria vida – mas o que por um lado cria senso de responsabilidade, confiança e independência, por outro pode gerar isolamento e sentimento de incompreensão. O médico conta, ainda, que o acesso a conteúdos sobre suicídio e autoflagelação podem ser prejudiciais para esses indivíduos, já que as funções cerebrais têm tendências mais impulsivas até o início da fase adulta.
“Após os 12 anos, a incidência de suicídio aumenta muito – embora possa acontecer também com crianças menores. As crianças e os adolescentes estão particularmente vulneráveis a essa cultura de falar de temas como suicídio e automutilação. É importante lembrar que estamos lidando com uma população que tem na sua base biológica uma tendência à impulsividade. A partir do momento em que esse adolescente tem acesso a um conteúdo, que hoje é muito extenso na internet, associado a comportamento de automutilação e suicídio, eles identificam o sofrimento e aquilo acaba se constituindo de um canal de expressão ou de alívio de dificuldades e sofrimento”, explica o psiquiatra.
Um estudo feito nos Estados Unidos indicou um aumento de 30% no índice de suicídio entre crianças e adolescentes no país após a estreia da série 13 Reasons Why (Os 13 porquês, em português). A série fala sobre Hannah Baker, uma adolescente que tira a própria vida após sofrer abusos na escola e envia fitas para 13 pessoas contando os agentes que a motivaram. Mas este fenômeno é mais antigo do se imagina: o livro Os sofrimentos do jovem Werther, do autor Johann Wolfgang von Goethe, criou uma onda parecida de suicídios entre jovens em 1774. Embora não se saiba exatamente o número de pessoas que morreram após ler a obra, a circulação foi limitada após o fenômeno.